Gás natural: produção de alumina no Pará muda matriz energética e reduz emissões de gases de efeito estufa

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Do óleo pesado ao gás natural
Produção de alumina no Pará muda matriz energética e reduz emissões de gases de efeito estufa. Transformação pretende diminuir 700 mil toneladas anuais de CO2, o que representa 30% menos emissões provenientes das caldeiras e calcinadores da unidade
A INDÚSTRIA
A indústria de alumínio no Brasil tem se alinhado a práticas sustentáveis, especialmente no que diz respeito à redução das emissões de gases de efeito estufa. Um exemplo significativo dessa transição é a mudança na matriz energética de uma refinaria de alumina localizada em Barcarena, no Pará, que passou a substituir o óleo pesado por gás natural em seu processo produtivo. O impacto esperado dessa mudança é a redução de 700 mil toneladas anuais de CO2, o que representa 30% de diminuição nas emissões provenientes das caldeiras e calcinadores da unidade. A transformação é marco no Pará e na região Norte do Brasil.
A substituição de combustível, que integra um projeto de R$ 1,3 bilhão, faz parte de uma ampla estratégia da indústria, alinhada à meta global da Hydro de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em 30% até 2030. O uso do gás natural, um combustível menos poluente do que o óleo pesado, é visto como uma etapa crucial para a descarbonização das operações, contribuindo para um processo produtivo mais sustentável.

André Terra, Gerente de Interface de Engenharia do Projeto do Gás Natural da refinaria, explica que o uso do gás natural traz uma redução significativa das emissões de CO2, mas também alinha a operação com as práticas globais de sustentabilidade, sendo um marco para a indústria no Pará
“A refinaria também é pioneira no uso de gás natural na região Norte do Brasil, com a chegada de uma unidade flutuante de armazenamento e regaseificação, além da inauguração de um terminal de importação de gás natural. Esse marco, que facilita a distribuição do combustível, também representa uma nova era energética para a região, que até então dependia majoritariamente de fontes de energia menos eficientes e mais poluentes”

Segundo Anderson Baranov, CEO da Norsk Hydro Brasil, a substituição do combustível nas operações é uma das ações de maior destaque no esforço para a descarbonização da indústria e reflete uma tendência crescente no setor. “Com a refinaria se tornando o maior consumidor de gás natural do estado, nossa expectativa é que outras indústrias possam seguir o exemplo, adotando o gás como fonte de energia, o que pode transformar a infraestrutura energética local”, explica.
Com a transformação, a unidade paraense passou a ser o maior consumidor de gás natural do estado. A mudança ajuda a reduzir as emissões da própria refinaria e abre caminho para o uso do gás natural por outras indústrias na região, transformando a infraestrutura energética local. “A empresa tem se posicionado como um catalisador para a implementação do sistema de distribuição de gás no Pará, o que poderá beneficiar outros setores da economia”, acrescenta Baranov.
Mix de investimentos
energia solar, eólica e biomassa
Estas energias também são foco
Além do gás natural, a Hydro está investindo em outras fontes de energia renovável, como a energia solar e eólica, e estuda o uso de biomassa para a produção de energia, com destaque para o caroço do açaí, fruto abundante na região paraense, em um esforço contínuo para reduzir sua pegada de carbono. Contratos de compra de energia solar firmados com a Hydro Rein, que envolvem projetos como “Mendubim” e “Ventos de São Zacarias”, visam fornecer uma parte significativa da energia consumida pela refinaria a partir de fontes limpas. As ações são vistas como complementares à estratégia de substituição do óleo pesado e do gás natural, contribuindo para um mix energético mais sustentável e diversificado.
“Esses projetos são uma extensão natural do nosso compromisso com a sustentabilidade. Eles não apenas diversificam nossa matriz energética, mas também proporcionam benefícios ambientais duradouros”, afirma o gerente de interface de engenharia do projeto do gás natural da Hydro, André Terra, ressaltando que a energia solar tem sido uma aliada importante nesse processo.
A empresa estuda ainda o uso de biomassa para a produção de energia, com destaque para o caroço do açaí, um resíduo abundante no Pará e que poderia ser aproveitado de forma a gerar uma economia circular, fortalecendo o vínculo entre a indústria e comunidade local. Esse modelo de aproveitamento de resíduos agrícolas impulsiona a sustentabilidade na região, além de reduzir os custos com combustível, tanto para a refinaria quanto para outras indústrias locais.
A mudança para o gás natural na produção de alumina em Barcarena é parte de um movimento mais amplo que busca não apenas atender às necessidades energéticas da indústria local, mas também garantir uma transição para fontes de energia mais limpas, beneficiando a região e toda a sociedade. O estado do Pará, com sua abundância de recursos naturais e capacidade de gerar energia renovável, se posiciona como um protagonista na descarbonização do Brasil, sendo um exemplo da integração entre indústria e sustentabilidade.
Implementação gerou cerca de 800 postos de trabalho
Para além dos impactos ambientais diretos, a transformação no uso do gás natural na refinaria também está gerando empregos na região. Durante o pico de implementação do projeto, cerca de 800 postos de trabalho foram criados, impulsionando a economia local. O processo de comissionamento, iniciado em abril, marcou a introdução do gás natural como fonte de energia, e a expectativa é que a iniciativa continue a criar oportunidades para a população de Barcarena e áreas vizinhas.
“A implementação desse projeto gerou muitos empregos diretos e indiretos. O mercado local tem sentido os benefícios dessa transformação, não só no campo da energia, mas também na criação de novos postos de trabalho”, afirma André Terra sobre o impacto positivo no mercado local.
Por conta da mudança, um acordo firmado entre a empresa e o governo do Pará garantiu benefícios fiscais à refinaria, como a isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) até que o projeto fosse concluído. Esse tipo de acordo demonstra o alinhamento entre o setor privado e as autoridades estaduais, com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável da região.
CEO da Norsk Hydro Brasil
Mudança cultural e operacional nas indústrias locais ainda é desafio
Apesar dos avanços, o processo de transição para uma matriz energética mais limpa enfrenta desafios, especialmente no que diz respeito à mudança cultural e operacional nas indústrias locais. A adaptação de equipamentos e a implementação de novas tecnologias, como a automação de processos e o aumento da segurança nas operações, foram essenciais para que a mudança fosse bem-sucedida. Segundo especialistas, o uso do gás natural não é apenas uma questão de viabilidade técnica, mas também de engajamento com as comunidades e governos para que o projeto traga benefícios a longo prazo.
“A mudança não é simples, é preciso envolver todos os stakeholders – desde os colaboradores até os governantes – para garantir que o projeto seja sustentável a longo prazo”, reforça Anderson Baranov.
A transformação energética em curso no Pará pode ser um reflexo de uma tendência global crescente, onde a sustentabilidade deixa de ser uma alternativa e se torna uma necessidade, impulsionada por políticas climáticas mais rígidas e a pressão de consumidores e investidores por práticas mais responsáveis. Para as indústrias brasileiras, esse movimento representa uma adaptação ao futuro da economia global, cada vez mais pautado pela redução das emissões de carbono e pela busca por fontes de energia mais limpas.
Enquanto isso, a expectativa é que a implementação bem-sucedida do gás natural em Barcarena possa inspirar outras regiões do Brasil a adotar tecnologias semelhantes, acelerando a transição energética no país. A integração de fontes renováveis, como a solar e a eólica, também pode contribuir para que a indústria nacional se posicione de maneira mais competitiva no mercado global, atendendo a exigências ambientais cada vez mais rigorosas.
O que é gás natural?
É um combustível fóssil encontrado em depósitos subterrâneos, que surge por meio da decomposição da matéria orgânica em condições de elevadas pressão e temperatura. É formado por hidrocarbonetos, como metano, etano e propano, e é utilizado como fonte de energia para a geração de calor e eletricidade, além de servir de matéria-prima para a indústria.
Emite menos gases poluentes na atmosfera e proporciona maior produtividade. Em contrapartida, é uma fonte não renovável de energia, ou seja, é finito na natureza.